DALTON DI FRANCO

DALTON DI FRANCO
Jornalista, escritor, radialista, administrador de empresas, pós-graduado, professor universitário e Advogado. Ele já foi vereador, deputado estadual e vice-prefeito de Porto Velho (RO)

quinta-feira, 19 de abril de 2007

A primeira impressão

Será que realmente é ela que fica? Veja o que homens e mulheres pensam


A primeira vez a gente nunca esquece. Pode falar, você não faz a menor idéia do décimo beijo que deu, do vigésimo momento que ouviu sua música preferida, nem mesmo da trigésima vez que você viu o amor da sua vida. Agora, certamente, da primeira você sabe! Isso porque, em qualquer campo, mesmo não sendo a melhor ou mais importante, ela vai ser lembrada justamente por ter sido uma estréia daquela informação para o seu cérebro. Não é à toa que, no meio publicitário, tantas marcas e produtos disputam para serem os primeiros a conquistar a mente do consumidor. Mas será que essa história vale também para a primeira impressão que temos de uma pessoa? Vamos ver se ela é mesmo a que fica.Quando nos deparamos com uma pessoa nova, imediatamente tecemos considerações a seu respeito, mesmo sem ter parâmetro algum para essa análise. É a inevitável primeira impressão, capaz de encadear relações e limitar tantas outras. "Sem querer, avaliamos as roupas, aparência física, a forma de se comunicar e de se portar e gravamos em nosso cérebro esta percepção", analisa a consultora de recursos humanos Patrícia de Mônica. Guiada pela primeira impressão, a estudante de jornalismo Renata Giannini acredita que a dita-cuja é a que fica - pelo menos até segunda ordem. “A princípio, é o único indício que se tem sobre os outros. Eu posso até mudar de idéia, mas dificilmente esqueço a sensação inicial que a pessoa causou. Só costumo ser cuidadosa para não errar”, explica Renata. O ilustrador Paulo D’ávila também afirma que é movido pela intuição. “A primeira impressão é minha bússola. Se gosto ou não de alguém, é de cara, e raras são as vezes me engano”, alega Paulo.
Por causa da minha timidez, todas as pessoas que eu conheço, sem exceção, comentam que passo uma imagem diferente do que realmente sou
Esse "pré-conceito" em torno de um fulano que nunca vimos mais gordo, magro, bonito ou feio é bastante subjetivo. Segundo a administradora de empresas Joana Affonso, representa uma reação quimicamente calculada. “Não existe uma explicação lógica para justificar o modo como se recebe o comportamento de outra pessoa. Vai de acordo com a personalidade de cada um”, comenta Joana. Já o ilustrador Paulo D’ávila acredita que somos regidos por uma lei de atração. “Aqueles que têm alguma afinidade se aproximam. Podem ser completamente diferentes, e se unem porque têm algo em comum, mesmo sem saber. Para mim, não há acaso. As situações juntam as pessoas”, opina o ilustrador.Química, empatia, intuição. É o que nos resta se nada sabemos a respeito de alguém que acabamos de conhecer. “Existem situações em que a identificação é imediata, ou que eu, simplesmente, não vou com a cara da pessoa. Caso isso aconteça, evito uma aproximação”, diz a estudante de jornalismo Renata Giannini. Então, na mesma medida que a opinião à primeira vista instiga possíveis encontros, ela pode muito bem atrapalhá-los. “A primeira impressão influencia no convívio com outras pessoas. Porém, às vezes, ela é casual, depende de como foi o seu dia ou se determinada característica faz lembrar outra pessoa que você conhece. Estamos passíveis a erros e acertos e não podemos confiar nela todo o tempo”, alega a pianista Clara Rauter. Isso mesmo, nem sempre uma análise superficial é suficiente para captar a essência de alguém que acabamos de conhecer. Que o diga a estudante de administração Fernanda Vasconcellos. “Por causa da minha timidez, todas as pessoas que eu conheço, sem exceção, comentam que passo uma imagem diferente do que realmente sou”, conta Fernanda. Pois é, quem sofre na pele as barreiras causadas pela primeira impressão sabe que ela não é a que fica. “Aprendi por experiência própria que você tem que tirar a prova se uma pessoa é realmente do jeito que imagina”, defende Fernanda, apoiada por Paulo D´ávila. “Para não ser injusto, dou uma segunda chance”, acrescenta ele.Opa, peraí! É impressão, ou estamos mudando os rumos da nossa investigação? Pelo visto, o “achismo” precoce tem limite. “Ele está quase sempre ligado a estereótipos. Claro que existe uma essência que fica, o primeiro olhar que marca. Tem pessoas que não suporto desde o início e outras que gosto de graça. Hoje em dia, mesmo que eu tenha uma má impressão, vou acabar relevando e dando outras oportunidades”, pondera o programador Guilherme Valente. De acordo com a estudante de turismo Roberta Bragança, a primeira impressão influencia o contato inicial, mas se desfaz ao longo da convivência. “Com o tempo, a gente percebe que nem tudo é como a primeira vez que vimos ou sentimos”, alega Roberta.E ainda há gente, como a economista Paula Schatz, que vai além e busca o segundo “approach” antes de fazer um julgamento negativo. “Para o santo não bater, tenho que estar em contato com a pessoa mais de uma vez. Do contrário, se me conquistam logo de cara, dificilmente mudo minha opinião. É mais fácil o caminho de não gostar para gostar do que o inverso”, revela Paula. É bem verdade que, se já no primeiro contato a pessoa não agradou, fica mais difícil mudar de idéia.De uma forma ou de outra, é bom tomar cuidado para não agir precipitadamente. O psicólogo Carlos Bein acredita que quem se agarra na primeira impressão corre o risco sair perdendo. “Certamente que a primeira impressão guia nossos relacionamentos, mas nem sempre de um modo positivo. Por trás dela, há motivos inconscientes que, se não esclarecidos, nos levam a fazer escolhas erradas. Não estou querendo dizer que o inconsciente sempre nos dirija para o lado equivocado. Até porque, como diz o ditado, ‘o coração tem razões que a razão desconhece’. No entanto, é importante ter clareza sobre essas razões”, conclui o psicólogo.

Maíra Donnici

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